“A polícia é parte da solução, ela não é toda a solução”, diz Beltrame

palestra beltrameDurante palestra na manhã desta sexta-feira (31) na 1ª Reunião Fórum Permanente de Segurança Pública (Direito Fundamental), o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame fez análise do trabalho da Polícia no Rio de Janeiro. Ele também expôs que não está otimista em acabar com a violência urbana e criticou a forma como o Estado trata a juventude.

O secretário falou também das UPPs, elogiou as polícias Civil e Militar e afirmou que os índices criminais estão caindo no Estado.

“Quando cheguei aqui eram 41 homicídios por 100 mil habitantes, hoje temos 25. Ainda é ruim, mas é a demonstração que temos um plano. Temos cidade no Brasil que o índice é de 60. Em junho, foram os menores índices em 25 anos”, disse.

O secretário disse ainda que não está otimista em relação a violência urbana, pois não vê política para melhorar a situação. Criticou a forma que a sociedade olha para a favela e pediu engajamento do Estado e da sociedade.

“Não sou otimista no que diz respeito a violência urbana. Eu não vejo agendas nítidas, objetivas e transparentes para a juventude e para as mães. Aqui no Rio não vejo política para abraçar a favela, pelo contrário, vejo um olhar marginal da sociedade para a favela. As pessoas querem a favela para ter lavadeira, babá e faxineira, é pra isso que querem a favela. Tem gente que mora aqui que não conhece a favela. Engajamento da sociedade é muito bom, mas tem um verbo que é fazer, porque de conversa fiada está todo mundo cheio”, criticou.

Em longa palestra, Beltrame foi mais além e citou até mesmo o homicídio que ocorreu contra o ciclista Jaime Gold, na noite do dia 19 de maio na Lagoa Rodrigo de Freitas, para defender a tese que o Estado não trabalha para conter a violência urbana.

“O jovem foi detido 15 vezes e na décima-sexta ele cometeu um homicídio. Ah secretário, mas não tinha policiamento na Lagoa. Eu disse: se aconteceu, de fato, não tinha mesmo. Mas aí fica a pergunta: mas o que fizeram com este jovem nas outras quinze vezes que ele foi detido? O que disseram pra ele? Como ele foi tratado? Quem era o pai dele? Quem era a mãe? Estuda? Não estuda?”, cobrou Beltrame.

O chefe de segurança do Rio foi mais além e afirmou que o Estado perdeu a capacidade de concorrer com o crime no recrutamento de menores.

menor“As crianças não tem perspectivas. O estado perdeu a capacidade de concorrer com o crime. Perdeu a capacidade… Por exemplo: uma foto com um menor de idade segurando uma pipa numa mão e na outra uma pistola. Isso não é problema de polícia. O Estado tem que entrar ali e dizer pra ele: fica com a pipa, larga a pistola, porque se você encontrar com a polícia vai te dar problema. Mas, quem está dentro da favela é a polícia”, constatou.

Em um momento, Beltrame criticou a Constituição e citou o que ele considera um erro:

“Eu acho a nossa Constituição maravilhosa, baseada nos direitos e garantias fundamentais, mas eu acho que o legislador cometeu um erro quando ele, no capítulo da Constituição joga todo o capítulo da segurança pública na polícia. Obviamente a sociedade introjetou aquilo como verdade e as próprias polícias assumiram aquilo como verdade e não é. A polícia é parte da solução e não toda a solução. Mas, estávamos saindo de um regime autoritário, é compreensível.”, disse.

José Mariano Beltrame, durante a palestra falou também sobre o crescimento da milícia e anunciou que em breve, o trabalho da polícia vai mostrar resultados no combate aos milicianos. Ele citou vários aspectos, entre os quais, analisando a atuação de policiais corruptos entre os criminosos. Confira alguns trechos:

Milícia

“Ele sabe a contra-inteligencia, ele sabe como a polícia raciocina. Enquadrar um cara como miliciano não existia, foi preciso tipificar para facilitar o trabalho. Importante também dizer que um crime de milicia não se acha testemunhas. Não tem testemunhas por que não existe programa de proteção a testemunha. Provita não funciona. Temos um delegado da baixada que é a sexta testemunha, as outras cinco já mataram. As testemunhas que conseguimos foi quando nós pagamos hotéis, levamos o MP para filmar”, afirmou.

Milícia e Política

“A milícia se estendeu também muito pela questão política, os trabalhos que a Polícia Civil fez provaram isso. Tinha políticos envolvidos. Então isso dava um sustentáculos pra eles que achavam que com eles não iríamos mexer. Quando chegamos tínhamos 7 milicianos presos. Hoje temos mil.”

policia
Migração de criminosos

“Fiz uma pesquisa, pedi que a Polícia Civil me informasse as pessoas presas. Porque os prefeitos quando vem reclamar de segurança dizem que os criminosos fugiram do Alemão e foi tudo para a cidade deles. A maior demanda dos questionamentos é de Niterói. Fizemos este levantamento durante seis meses e das 360 prisões, 32 pessoas eram do Rio e foram presas em Niterói. Existe a migração, mas é muito pequena.”

Afastamento da polícia

“Eu entendo que a sociedade se afastou da polícia e a polícia da sociedade. Houve este afastamento da sociedade porque a polícia cometia muitos excessos e comete ainda. E a polícia se afastou da sociedade porque em alguns lugares, os criminosos forçam moradores a esconder munição, armas, a incendiar ônibus. Isso criou um afastamento. Agora eles estão juntos lá, muda a cultura e a gente aposta que possa melhorar.”

Vandalismo

“Eu acho que o que nós vimos a dois anos atrás eram ações que nós não estávamos preparados. Nem a sociedade, nem a mídia, nem a polícia.  Se alguém disser algo diferente disso é faltar com a verdade. Mais de 100 cidades amanheceram sob protestos. Nós tivemos dificuldade de enquadra tudo isso. A polícia fez um trabalho de inteligência e a pesquisar para ver de onde vinham todas as questões. Efetuamos prisões. Nós todos aprendemos muito com tudo aquilo.”

Legado

“O que eu pretendo deixar de legado é método. Eu que todos nós precisamos de método. Método para medir seus ganhos, falhas, para ver quanto custa um registro de ocorrência, quanto custa deslocar batalhão de choque. Assim como é a UPP hoje. Falta muita coisa. Mas, precisamos de método. Não dá pra fazer as coisas no achismo, rasgar dinheiro. Antes se colocava uma ronda da PM num lugar aonde tinha bastante banco ou escola. Hoje você tem isso estudado diariamente, a gente tem um mapa termal que mostra a mancha criminal e a gente pode conduzir o policiamento de maneira racional. Esse mapa é produzido baseado nas ocorrências da Polícia Civil. Por isso é importante registrar sempre. Deixarei de legado um método.”

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