Natal sem glúten e caseína, mas com muito sabor

Um Natal sem glúten e leite, mas nem por isso menos saboroso que qualquer outro. Esse era o desafio que um grupo de mães de autistas tinha pela frente, ao se reunir esta semana com a nutricionista Karina Schuina na Clínica-Escola do Autista de Itaboraí. Determinadas a criar receitas especiais que não façam mal aos seus filhos, e assim garantir uma ceia digna para toda a família, elas cumpriram a missão, e com louvor.

Panetone, rabanada, torta de bacalhau, sorvete, torta de maçã, bolo de chocolate, pães diversos e outras guloseimas que caem muito bem durante os festejos de Natal foram criados e aprovados. Tudo sem glúten e caseína – proteínas do trigo e do leite que, se consumidas pelos autistas, agravam alguns dos sintomas dos portadores da síndrome.

“As duas substâncias causam reações adversas na maioria dos autistas. Ao ingerir alimentos com glúten e caseína, eles se tornam mais irritados e aumentam a estereotipia (ações repetitivas, verbais ou motoras, típicas de autistas), gerando também desconforto abdominal e problemas intestinais, entre outras complicações”, esclarece Karina.

As reuniões para a elaboração de receitas especiais para os autistas são mensais na Clínica-Escola, instituição mantida pela Prefeitura de Itaboraí. O encontro que resultou na ceia de Natal foi o terceiro. Ao todo, 22 pratos já foram criados, entre doces, salgados e até imitações de laticínios, como o “falso requeijão” e o “falso queijo”.

As mães são unânimes ao reconhecer melhoras na saúde e no comportamento de seus filhos autistas, a partir da adoção da alimentação sem glúten e caseína no dia a dia.

“Eu já sabia dessa dieta, mas foi a partir do início do tratamento aqui na Clínica-Escola que resolvi adotá-la na prática”, diz Alice Maria Melo, mãe do jovem autista Arthur, 4 anos. “Houve grande melhora. Ele ficou mais concentrado e sociável, e aumentou o contato visual. Isso em apenas dois meses”.

Já Gustavo, 5 anos, livrou-se das fraldas, como atesta a mãe, Janaína Marques.

autistas 3Depois que parei de dar leite, ele ele não precisou usar mais fraldas e se desenvolveu. Ainda não tinha tirado o glúten. Comecei a pesquisar mais, e cheguei à Clínica-Escola do Autista, quando também eiliminei o trigo.Ele passou a se concentrar melhor e deu um salto enorme em relação ao comportamento”, observa Janaína.

Clínica-Escola

A Clínica-Escola do Autista de Itaboraí compõe a rede da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. É a única instituição pública do país a oferecer tratamento multidisciplinar gratuito a autistas de todas as idades, incluindo diagnóstico e tratamento médico, orientação nutricional e sessões com fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, entre outros. Os alimentos utilizados no local são todos orgânicos, obtidos da agricultura familiar local.

Atualmente, a instituição atende a 107 pessoas, e vai iniciar uma nova fase em 2015, voltada a preparar os autistas para serem inseridos na rede de ensino regular do município. Para isso, um grupo de 30 professores da rede concluiu um curso de Formação Pedagógica em Autismo, que os habilita a lidar com portadores da síndrome na Clínica-Escola e nas outras instituições de ensino da cidade.

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