Parentes e amigos fazem protesto contra morte de produtor cultural em Niterói

Vestidos de preto e com uma vela acesa na mão, familiares e amigos próximos ao produtor cultural Rafael Lage, de 40 anos, fizeram um protesto na Praia de Icaraí, no início da noite desta terça-feira (30). Ele morreu ao ser baleado durante um assalto ao bar em que estava, no Ingá, Zona Sul de Niterói. O ato, organizado pela ONG Rio de Paz, reuniu cerca de 150 pessoas, que estenderam uma faixa com os dizeres “Banalidade do mal: Rafael Lage é mais uma vida interrompida pelo crime num país governado por corruptos e incompetentes” na areia.  

O movimento se concentrou na altura da reitoria da Universidade Federal Fluminense (UFF), instituição em que o Rafael cursava um doutorado, e durou cerca de duas horas. Representantes da Rio de Paz também estiveram presentes no ato, entre eles o fundador e presidente Antônio Carlos Costa.  

“Estamos aqui hoje para não deixar o sangue do Rafael cair no esquecimento. Uma coisa merece ser destacada e foi isso que trouxemos para a Praia de Icaraí: a banalidade do mal. A vida humana perdeu o valor na nossa cultura”, declarou Antônio Carlos. 

Citando os altos índices da violência, o fundador da Rio de Paz ressaltou que a criminalidade em Niterói se elevou a partir da criação da UPPs nas comunidades mais violentas do Rio de Janeiro. De acordo com ele, a implantação proporcionou um movimento de migração de traficantes para Niterói. Antônio ainda criticou as ações do Governo do Estado. 

“Não há a mínima dúvida, contudo, que essa alta taxa de criminalidade na cidade é subproduto de algo muito mais amplo, que afeta a vida do Estado como um todo. O Estado carece da reforma da polícia, de rever a estupidez da guerras às drogas, que não está diminuindo o consumo e só representa a morte de policiais e traficantes”, pontuou. 

Inconformado com a morte do filho, Ivar da Costa Pereira , 73 anos, pai de Rafael, disse que a imagem que vai levar dele é de alegria. Lembrando de momentos que passou com o produtor cultural e do quanto ele se dedicava aos estudos, Ivar se emocionou durante o ato. 

“Lembro de quando fui na apresentação do mestrado dele e achei que ele ia levar um zero. Ele brincava o tempo todo, arrancava sorrisos de todo mundo. E levou a nota máxima”, lembrou o pai, sob lágrimas.  

Engenheiro aposentado a e morador de Icaraí, Ivar se vê com a rotina completamente alterada depois do que aconteceu com Rafael.  

“Niterói está clamando por segurança. Isso deveria ser prioridade aqui, mas não é o que vemos nas ruas. Eu costumava sair para jantar com a minha esposa aqui pelo bairro mesmo. Hoje, ela já não quer mais sair de casa”, contou o pai de Rafael. 

A namorada do produtor cultural, que estava com ele durante o assalto, não compareceu ao ato. A irmã de Rafael, Luciana Lage, disse que Rafael costumava frequentar bares, mas que estava há pouco tempo morando no Ingá. 

“Ele não conhecia tanto aquela região, ia mais para Icaraí e Centro do Rio. No dia que aconteceu, ele passou a tarde na minha casa, em Itaipu, brincando com meus filhos, e saiu de lá umas 20h30 para ir para o bar com a namorada. Foi quando foram surpreendidos pelo assalto e se assustou com a cara de espanto da namorada. Quando se levantou para ver o que estava acontecendo, levou um tiro fatal”, relembra Luciana. 

Quem passava pelo calçadão da Praia de Icaraí, também resolveu prestar apoio ao movimento. É o caso da admistradora Carla Lopes, de 37 anos.  

“Estava caminhando por aqui quando vi todos reunidos. Acho importante participar de protestos como esse para mostrar nossa indignação com a falta de segurança na nossa cidade”, comentou.

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