Parque Paleontológico de São José ganha novos equipamentos

itaboraiA Prefeitura de Itaboraí inaugurou uma série de equipamentos no Parque Paleontológico de São José durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNTC), celebrada de 13 a 19 de outubro.

O local, onde já foram encontrados fósseis datados de milhões de anos, ganhou uma sala de vídeo 3D, nova sinalização e aparelhos para serem utilizados nos laboratórios científicos. Os investimentos resultam de uma parceria com a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

No início da Semana, o presidente da Faperj, Ruy Marques, esteve no Parque e verificou as novas melhorias, acompanhado do subsecretário de Meio Ambiente de Itaboraí, André Pereira, e de pesquisadores que atuam no local

“Nossa missão é fazer o possível para adequar as condições de acesso ao Parque, não apenas para os pesquisadores, mas também para a população em geral, que tem essa área maravilhosa para desfrutar aqui em Itaboraí” , disse André Pereira. “A parceria com Faperj é fundamental, e estamos em busca de mais instituições interessadas em conhecer nosso Parque e também investir nesse patrimônio, que é de todos nós”.

A sala de vídeo tem capacidade para 24 pessoas, e é equipada com uma TV 3D de 60 polegadas, um home-theater e óculos especiais. O espaço, inaugurado na terça-feira (14/10) com uma sessão para estudantes do município, será utilizado para exibição de filmes e documentários relacionados às principais áreas de estudos do Parque: paleontologia, arqueologia e geologia. Os laboratórios, além de armários e lupas, receberam lâminas petrográficas para facilitar a observação dos visitantes.

Toda a área também ganhou novas placas de sinalização, para orientar cientistas e turistas. Gerente do Parque, o biólogo Luis Otávio Castro comemora os investimentos.

“Moro na região há muitos anos, e já visitava o local antes mesmo de ser o gerente. Aqui, realizo pesquisas desde a minha graduação, em 2007. Posso garantir que a atual gestão da Prefeitura tem se empenhado bastante para melhorar os acessos ao Parque e ao seu conteúdo histórico”, disse Luis Otávio.

Entre outras melhorias realizadas a partir da parceria com a Faperj estão a revitalização dos banheiros do Parque, que foram adaptados para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Também foram abertas novas trilhas, e as antigas, revitalizadas. Um novo deck também foi construído para a observação de rochas calcárias.

Pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a paleontóloga Lílian Berqgvist é a responsável por pesquisas realizadas com o fóssil de um xenungulado (Carodnia Vierai) de 55 milhões de anos encontrado recentemente no Parque de São José. Durante a SNCT, o material foi trazido de volta ao local para ser apresentado a estudantes da rede municipal.

“Fiz meu doutorado com estudos aqui no parque, em 1996. Desde 2004, venho frequentemente ao local para realizar pesquisas, e posso dizer que a transformação foi considerável. Mas não vamos parar por aqui. Ainda há muito o que ser feito. Os próximos passos são melhorar, ainda mais, a infraestrutura” , disse Lilian Bergqvist, diretora do Laboratório de Macrofósseis da UFRJ.

Aberto à visitação pública, o Parque Paleontológico de São José é dirigido pela arqueóloga Maria Beltrão, uma das mais renomadas do país. Ela faz pesquisas no local há décadas em busca de fósseis humanos de cerca de 2 milhões de anos que, se encontrados, mudarão a história da ocupação das Américas.

Para realizar uma visita guiada, basta fazer o agendamento na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Itaboraí, de segunda à sexta-feira, das 8 às 17 horas, pelo telefone (21) 3639-1908 ou pelo e-mailparque.paleontologico@itaborai.rj.gov.br

O Parque Paleontológico de São José

Em 1928, um fazendeiro achou pedaços de rocha que considerou interessantes. Levou para análise e descobriu que se tratava de calcário. Com isso, a área foi vendida para a Companhia Nacional de Cimento Mauá, cuja  produção foi aproveitada na construção da Ponte Presidente Costa e Silva (Rio-Niterói) e do Estádio Mário Filho (Maracanã).

A fábrica foi visitada por grandes personalidades, incluindo alguns presidentes da república, sendo considerada uma das experiências mais bem-sucedidas de fabricação de cimento no país.

Com a exploração mineral, descobriram-se vestígios arqueológicos. E quando o calcário terminou, em 1984, restou uma depressão de 70 metros, que foi progressivamente coberta com água da chuva e de veios subterrâneos, erguendo um grande lago. Seis anos depois, em 1990, a Prefeitura Municipal de Itaboraí declarou a área de utilidade pública, através de um processo de desapropriação.

Com isto, em 1995, nascia o Parque Paleontológico de São José, eleito pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep), órgão ligado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), um dos patrimônios da humanidade.

No Parque já foram descobertos fósseis de diversos mamíferos, gastrópodes, répteis e anfíbios, se destacando o tatu mais antigo do mundo e o ancestral das emas. Ambos do Paleoceno, datados de cerca de 55 milhões de anos. Foram achados, também, fósseis de preguiça gigante e mastodonte, da Idade Pleistocênica (aproximadamente 20 mil anos). Também foram encontrados restos arqueológicos, evidenciando a presença do homem pré-histórico no local.

Localizado na Região Metropolitana do Rio, distante cerca de 60 km da Capital fluminense, o Parque compreende uma área por volta de 100 mil metros quadrados, na Bacia de São José. Recentemente, a Prefeitura iniciou um trabalho para fazer da área um ponto não apenas de pesquisa mas também de turismo científico. O primeiro passo foi convidar a arqueóloga Maria Beltrão para assumir a direção da unidade.

Em dezembro passado, ela e o prefeito Helil Cardozo apresentaram um projeto de recuperação da área à mineradora responsável pela exploração de calcário no local de 1928 até o início da década de 80. Na ocasião,a empresa se comprometeu a recuperar a área degradada. A Petrobras, que constrói na cidade o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), também já foi procurada.

“Nossa intenção sempre foi a de preservar o parque para que seja explorado adequadamente e de maneira sustentável por cientistas, além de transformá-lo em ponto de visitação. Muita gente vive em Itaboraí e não conhece esse tesouro natural”, comenta o prefeito Helil Cardozo.

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