Pesos pesados preparam-se para Olimpíada com muito treino, sono e proteína

Fernando Maia/MPIX/CPB
Fernando Maia/MPIX/CPB
Se quisessem pegar o mesmo elevador, os atletas entrevistados para esta reportagem teriam que fazer várias viagens para distribuir seus quase 800 quilos. “Pesos pesados” em diferentes esportes, eles contam que a dieta para controlar o peso nas categorias mais altas também é rigorosa e que, no embate entre gigantes do esporte, nem sempre mais quilos significam mais chances de medalha. Com muita proteína no prato, suplementos e horas de sono sagradas na programação diária, eles torcem para que o peso adquirido nos treinos traga mais ouro nos Jogos do Rio.

O para-atleta do judô Wilians Araújo, de 24 anos, disputa a categoria acima de 100 quilos para deficientes visuais, mas já esteve bem acima disso. Com 1,90 metro de altura, o paraibano já tentou competir com 151 quilos, mas, na busca pelo melhor desempenho entre os pesos pesados, mais massa não o ajudou a vencer mais lutas.

“Fiquei um pouco lento nos golpes que eu fazia com mais explosão. Fiz um teste e não gostei”, conta ele, que baixou o peso para 142 quilos e agora se sente satisfeito. “Abaixo disso, eu já não acho legal, porque luto com gente bem mais pesada.”

Também do judô, disputando vaga na categoria olímpica acima de 100 quilos, o mato-grossense David Moura é outro que já enfrentou gente bem mais pesada, com quase 200 quilos, e venceu. “Meu diferencial na luta é a velocidade e a potência que entram os meus golpes. Quero ser cada vez mais rápido, veloz e atlético, para vencer pelo preparo e na velocidade com que troco a pegada e entro no golpe”, diz o atleta de 28 anos, que hoje tem 135 quilos, peso que só atingiu após quatro anos de treino no alto rendimento.

“Quando entrei na seleção em 2010, eu tinha 112 quilos. Com 112, eu estava muito fraco para um peso pesado, e com isso foram vários trabalhos. Primeiro para 120, com seis, sete meses me adaptando. Depois, para 130. No momento em que se faz esse trabalho, a ingestão calórica é muito grande, e ganha-se gordura, mas depois adequa-se a alimentação para perder”, explica o judoca, que ingere cerca de 8 mil calorias por dia com a ajuda de suplementos e rigoroso acompanhamento nutricional.

“A maioria das pessoas vem me perguntar e me diz que ‘o bom é que eu posso comer o que eu quiser’. Acham que não temos preocupação com o peso, mas estamos falando de esporte de alto rendimento e performance. Tenho que suprir as minhas necessidades corporais e comer de uma forma que a minha performance aumente”, acrescenta.

“Mulher tem Curvas”

Renato Sette/CBW
Renato Sette/CBW
Na luta olímpica, Aline Silva, de 29 anos, também disputa a categoria mais pesada, que, para mulheres, é até 75 quilos. De acordo com Aline, atingir esse peso requer uma programação que começa bem antes da competição, já que seu peso normal é de 80 quilos. “Na semana que antecede a pesagem, bebo bastante líquido, principalmente água, para perder apenas líquido para o momento da pesagem. Evito todo tipo de carne três dias antes da pesagem e, depois, recupero o peso perdido com carboidrato, macarrão e batata.”

A lutadora considera natural sua opção pela categoria mais pesada por medir 1,77 metro de altura. “Já lutei algumas vezes, bem poucas, na categoria até 69 quilos, mas tinha que perder muito peso e acabei ficando na de 72, que em 2014 passou a ser 75 quilos”, diz Aline, ao ressaltar que a população tem um estereótipo da aparência do atleta que pesa mais sobre as mulheres. “As pessoas ficam mais em cima de nós, meninas. Esse estereótipo da magreza não existe. A mulher tem curvas.”

Na corrida para chegar a mais uma paralimpíada aos 44 anos, a atleta Rosinha Santos, do arremesso de peso e lançamento de disco destaca que o peso não é determinante em seu esporte, mas diz que, para ter melhor desempenho, pretende sair dos atuais 98 quilos para chegar a 85. “Não existe um peso ideal. Posso estar com 200 quilos e arremessando. É uma questão de saúde mesmo. Quero eliminar esse peso, mas, para o atleta, é complicado perder. Não posso fazer um regime rigoroso, se não vou perder a força”, afirma Rosinha, que, além dos mais 30 arremessos e lançamentos diários, faz musculação para aumentar a massa magra e ganhar força.

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