Silenciosa, doença renal crônica atinge 10% da população mundial

A doença renal crônica atinge 10% da população mundial e afeta pessoas de todas as idades e raças. A estimativa é que a enfermidade afete um em cada cinco homens e uma em cada quatro mulheres com idade entre 65 e 74 anos, sendo que metade da população com 75 anos ou mais sofre algum grau da doença. Diante desse cenário, no Dia Mundial do Rim, lembrado hoje (12), a Sociedade Brasileira de Nefrologia defende que a creatinina sérica e a pesquisa de proteína na urina façam parte dos exames médicos anuais.

O risco de doença renal crônica, de acordo com a entidade, deve ser avaliado por meio de oito perguntas: Você tem pressão alta? Você sofre de diabetes mellitus? Há pessoas com doença renal crônica na sua família? Você está acima do peso ideal? Você fuma? Você tem mais de 50 anos? Você tem problema no coração ou nos vasos das pernas (doença cardiovascular)? Se uma das respostas for sim, a orientação é procurar um médico.

Os principais sintomas da doença renal crônica são falta de apetite, cansaço, palidez cutânea, inchaços nas pernas, aumento da pressão arterial, alteração dos hábitos urinários como urinar mais à noite e urina com sangue ou espumosa.

As recomendações das entidades médicas para reduzir o risco ou para evitar que o quadro se agrave incluem manter hábitos alimentares saudáveis, controlar o peso, praticar atividades físicas regularmente, controlar a pressão arterial, beber água, não fumar, não tomar medicamentos sem orientação médica, controlar a glicemia quando houver histórico na família e avaliar regularmente a função dos rins em casos de diabetes, hipertensão arterial, obesidade, doença cardiovascular e histórico de doença renal crônica na família.

Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia indicam que 100 mil pessoas fazem diálise no Brasil. Atualmente, existem 750 unidades cadastradas no país, sendo 35 apenas na cidade de São Paulo. Os números mostram ainda que 70% dos pacientes que fazem diálise descobrem a doença tardiamente. A taxa de mortalidade para quem enfrenta o tratamento é 15%.

Serviços não acompanham aumento do número de pacientes renais

No Dia Mundial do Rim, lembrado hoje (12), especialistas e entidades representativas dos pacientes renais alertam para o aumento cada vez maior no país do número de pessoas com doenças renais crônicas. O número não acompanha, na mesma proporção, a divulgação de campanhas de prevenção e ofertas de médicos e serviços.

A presidenta da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Carmen Tzanno, disse que o Brasil está entre os cinco países com mais pacientes renais que fazem diálise. O tratamento substitui as funções de filtragem do rim e é vital, enquanto o paciente aguarda um transplante.

“Temos cerca de 100 mil pessoas que estão  incluídas em programa de diálise no Brasil. São cerca de 5,5 mil transplantes de rins feitos todos os anos. De 2000 a 2014, o número de pacientes renais subiu 134% e o de serviços disponíveis para suprir a demanda ficou em 41,98%. O número de clínicas não acompanha esse crescimento. Temos 409 municípios com clínicas de diálise e nefrologistas. O fato é que somos aproximadamente 3 mil nefrologistas que estão mais concentrados em algumas regiões, enquanto outras acabam carentes desse tipo de atendimento”, explicou.

Os principais motivos para o aumento de casos são o envelhecimento da população, a falta de alimentação saudável e a prática de exercícios. “No mundo moderno, as pessoas têm tantas atividades que acabam consumido os alimentos industrializados, que geralmente têm muitos aditivos e quantidades de sal e sódio acima do recomendado, e não encontram tempo para fazer exercícios. Outro fator diz respeito à questão financeira mas, de qualquer forma, a solução está sempre na educação e na informação, sendo necessário alertar as pessoas sobre os cuidados que devem ser tomados”, disse.

A Doença Renal Crônica (DRC) é a principal causa de transplantes de rim e afeta 10% da população mundial. Obesidade, diabetes e hipertensão arterial são as principais causas da DRC. A incidência da doença aumenta em pacientes com idade entre 65 e 74 anos. Metade da população idosa acima de 75 anos também tem a doença em algum estágio.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (Fenapar), Renato de Jesus Padilha, a diálise peritoneal dá ao paciente mais liberdade e melhor qualidade de vida. Transplantado há 11 anos, ele chegou a fazer hemodiálise por cerca de um ano e meio antes de ganhar um novo rim, doado pela irmã. “Com a diálise em casa, você pode administrar o tratamento, pode viajar. Como o processo é mais rápido que o da máquina, é possível fazer a substituição do fluído peritoneal em menos tempo e não prejudicar o trabalho, por exemplo”.

Padilha acredita que são necessários mais investimentos públicos no tratamento e no trabalho de prevenção, com informação e educação constante e intensa. “Além de salvar vidas, informar e educar sobre prevenção sai mais barato em todos os sentidos, evita gastos com tratamentos e transplantes”.

Mais de 80% dos tratamentos de pacientes renais são pagos pelos Sistema Único de Saúde, mas a maioria dos centros de diálise é particular. Há duas opções de tratamento: a hemodiálise e a diálise peritoneal. Tanto Carmen quanto Padilha disseram que o atendimento aos pacientes renais pelo SUS é adequado, mas que o quadro pode piorar se não houver aumento de recursos para o setor.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante, Hélio Vida Cassi, o principal problema é o baixo valor pago pelo SUS aos procedimentos de tratamento.

“Há dois anos tivemos reajuste de 5%, após muita luta e pressão, valor que não cobriu nem a defasagem da inflação. O valor por sessão de hemodiálise pago às clínicas particulares está fixado em R$ 179,03. Há muito tempo apresentamos planilhas ao Ministério da Saúde mostrando que o custo básico é de pelo menos R$ 232. Os custos das clínicas sobem muito mais do que o repasse do governo. O salário mínimo aumentou 432% nos últimos dez anos, enquanto o pagamento da diálise subiu 91% no mesmo período”, explicou.

De acordo com Cassi, algumas clínicas estão deixando de atender pacientes do SUS para diminuir os prejuízos. “O Brasil é um dos países da América Latina que menos paga pelo procedimento. As clínicas não têm como reinvestir em equipamentos mais modernos, na melhoria do serviço. Com a inflação e o dólar altos,  o aumento se reflete nos custos dos insumos importados; se nada for feito, a situação vai ficar impraticável e muitas clínicas vão fechar em curto espaço de tempo”.

Pressão alta, diabetes e obesidade podem ser sinais de alerta para doença renal

Pessoas com pressão alta, diabetes e obesidade fazem parte dos chamados grupos de risco para problemas renais. Casos da doença na família, idade superior a 50 anos e uso de remédio sem orientação médica também ampliam as chances de o problema ser diagnosticado. O alerta foi feito pela Sociedade Brasileira de Nefrologia no Dia Mundial do Rim, lembrado hoje (14).

Dados do órgão indicam que cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de disfunção renal. A taxa de prevalência é 50 casos para cada 100 mil habitantes. Em entrevista, o presidente da sociedade, Daniel Rinaldi, destacou que sem um diagnóstico preciso, a maioria dos pacientes morre sem sequer ter acesso à diálise (principal tratamento para a doença em estágio avançado).

“Nossa intenção é alertar esses grupos de risco para que possam perguntar ao médico como está a função dos seus rins. Temos dois exames extremamente simples e baratos para diagnosticar precocemente a doença renal – a creatinina no sangue e o exame de urina para detectar perda de sangue e albumina [um tipo de proteína]”, explicou.

Rinaldi lembrou que o diagnóstico precoce pode conter o avanço da doença renal crônica. Dessa forma, pacientes que sofrem de diabetes, por exemplo, não precisam se submeter à diálise, mas controlar a alimentação, enquanto pessoas com pressão alta devem reduzir a ingestão de sal e ingerir bastante líquido.

“Esses exames têm que fazer parte do check up. Todo mundo conhece seu colesterol e sua glicemia, mas quase ninguém sabe como está a sua creatinina”, disse. A estimativa da sociedade é que mais de 35 milhões de brasileiros sejam hipertensos e que 8 milhões sejam diabéticos.

Os números mostram ainda que em torno de 100 mil brasileiros fazem diálise no país atualmente. A taxa de internação hospitalar para esse tipo de serviço é 4,6% ao mês. Mais de 70% dos pacientes que iniciam o tratamento descobrem a doença quando os rins já estão gravemente comprometidos. A taxa de mortalidade entre eles aumentou 38% na última década.

Com informações da Agência Brasil

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