Abertura do túnel muda realidade de niteroienses
Todo domingo, a agente social Dilma Ferreira da Silva, 45 anos, se prepara para um encontro especial: o almoço em família na casa da filha Thayane Ferreira, 24 anos. Dilma mora no Preventório. Thayene casou e foi morar em Itaipu. A mãe conta que demora, em média, 1 hora para chegar à casa da filha, e atualmente precisa pegar dois ônibus. Porém, a abertura do túnel Charitas-Cafubá ao tráfego de veículos, no próximo dia 6 de maio, vai mudar esta realidade. Dilma poderá chegar à casa de Thayene em apenas 20 minutos, e pegando apenas um ônibus.
Obra esperada pelos niteroienses há mais de 40 anos, o túnel, que liga os bairros de Charitas, ao lado do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, à Avenida Raul de Oliveira Rodrigues (antiga Avenida Sete), na Fazendinha, Região Oceânica, é formado por duas galerias, sendo uma em cada sentido com 1.350 metros de extensão e quatro pistas – duas para carros, uma para ônibus do sistema BHS – e uma ciclovia.
O almoço em família já é uma tradição desde que a Thayene casou, há dois anos. E agora, com o túnel, também vou poder sair do trabalho alguns dias durante a semana e visitar ela e a minha neta, Maria Eduarda, de 8 anos
“O almoço em família já é uma tradição desde que a Thayene casou, há dois anos. E agora, com o túnel, também vou poder sair do trabalho alguns dias durante a semana e visitar ela e a minha neta, Maria Eduarda, de 8 anos. Estou muito contente em poder acompanhar o crescimento da minha neta mais de perto. Sem contar que ainda é possível fazer este trajeto de bicicleta também”, comemora Dilma, que há 24 anos deixou a Tijuca para morar em Niterói.
Thayene lembra que, desde pequena, ouvia a mãe falar da construção do túnel. “Quando ainda morava no Preventório, sempre vinha à praia na Região Oceânica e ficava imaginando como seria se existisse o túnel. Hoje é uma realidade. Fico muito feliz de a minha filha poder crescer com esta melhoria na cidade. Essa obra representa um grande passo para os moradores da Região Oceânica. Meu marido, atualmente, trabalha em São Francisco, e vai poder usar o túnel todos os dias. E eu poderei visitar minha mãe com mais frequência”, diz ela.
A família não esconde a alegria em ver a obra do túnel concluída e Thayene confessa: “Sempre que vinha na casa da minha mãe, eu tentava tirar fotos da entrada do túnel, em Charitas, e ficava acompanhando a obra de longe”. A empolgação com a obra não é para menos. Além de mudar de vez o paradigma da mobilidade urbana da cidade, o projeto das galerias é um dos mais modernos do Estado.
O túnel tem iluminação composta de 1.100 lâmpadas de LED, sistema de exaustão com 16 ventiladores, 40 câmeras, seis painéis de mensagens, 80 interfones de emergência, 200 sinalizadores de evacuação de área e um moderno sistema de sonorização.
A grandiosidade da obra também chama a atenção do taxista Jair Rocha, de 73 anos. “Trabalho como taxista desde 1989 e sempre ouvi falar sobre esse projeto do túnel, mas não acreditava que fosse sair do papel. Ninguém teve coragem de fazer antes. Vai ser muito bom para o passageiro, que vai economizar, e para nós, profissionais, que vamos encurtar essa distância e ganhar mais tempo”, diz. “Espero que meus netos possam herdar uma Niterói muito melhor e vejo que obras como essa podem contribuir para isso”, acrescenta.
Orgulho que já faz parte da história
A construção do túnel faz parte da TransOceânica, corredor viário que será entregue no primeiro trimestre de 2018. Com 9,3 quilômetros de extensão, a TransOceânica, maior obra viária realizada em Niterói nos últimos 40 anos, vai passar por 12 bairros e terá 13 estações de ônibus BHS (Bus of High Level of Service), beneficiando 125 mil moradores.
O canteiro de obras chegou a ter 700 funcionários. Evandro das Neves Saldanha, 30 anos, é um dos carpinteiros que trabalha na obra. Após quatro meses desempregado, ele foi chamado para a construção do túnel e, mesmo já tendo trabalhado em obras de outros dois túneis em outros estados, conta que se surpreendeu com este projeto.
“A sinalização e o sistema de sonorização, que é bastante moderno, me chamaram muita atenção, assim como as obras de drenagem e pavimentação nos acessos ao túnel. Essa obra deu uma nova cara para o bairro, que tinha muitas ruas sem asfalto. É emocionante ver esta obra pronta”, afirma Evandro.
O encarregado de obras Jair Veloso, 48 anos, que coordena uma equipe de 32 funcionários na obra, conta que as escavações e detonações ficarão para sempre em sua memória.
“É um privilégio, como profissional, poder participar de uma obra como essa, que fará diferença na vida das pessoas. Moro na Baixada Fluminense e costumo brincar dizendo que queria um prefeito que tivesse esse empenho na minha cidade. Tenho prazer em conversar com meus vizinhos e mostrar o que está sendo feito aqui e onde estou trabalhando. Quero que um dia, todos tenham a oportunidade de vir aqui e conhecer de perto”, diz entusiasmado.
O pedreiro Paulo Henrique Carvalho Magalhães, 48 anos, também não esconde o orgulho em falar da obra.
“Já imaginou quando eu passar aqui com os meus filhos e falar que fiz parte desta construção, que fiz parte dessa história? Agora teremos mais uma alternativa não só para quem vai usar o túnel como caminho para o trabalho, como também para o lazer”, finaliza.