Egito e Polônia não foram decepções, e sim exageros de avaliação
“O Egito vai avançar nesse grupo. A Rússia não passará nem da primeira fase”. “Polônia será uma das classificadas no H. Sem chances para Japão e Senegal”. Quantas vezes frases como estas foram ditas antes do começo da Copa? Possivelmente, várias. Pois este foi o pensamento que prevaleceu em grande parte da opinião dos especialistas em futebol. Mas, encerrada a chave A, vemos que os egípcios, além de caírem na segunda rodada, sequer somaram ponto, nem mesmo contra a frágil Arábia Saudita. Os poloneses, podem até vencer o último compromisso, porém já estão fora e, por quanto, também zerados na pontuação. O que será, então, que aconteceu? Talvez, estejamos confundindo ter um bom jogador no elenco com ter um bom time.
É importante destacar que esses não são os mesmos casos de seleções grandes que estão passando sufoco, como Argentina, Alemanha e Brasil. Os favoritos andam tropeçando, porém o problema está sendo a prática, já que, no papel, essa turma tem times tecnicamente valiosos. Já os emergentes levaram tombos, depois de serem empurrados a um patamar não condizente com eles.
Pego essas equipes como exemplo por serem os retratos mais fiéis dessa contradição. Mohamed Salah foi um dos (ou o principal) nome do Liverpool, vice-campeão europeu, na parte final da temporada. Antes, nada de muito interessante na carreira, marcada por passagens em vários clubes e sem tanto brilhantismo. Não está em jogo aqui, entretanto, julgar a capacidade do camisa 10 de seu país, que vem demonstrando, sim, ser um atleta de alto nível. A questão errônea é, a partir dele, colocar os egípcios como potência do grupo.
Por mais que a Rússia vivesse péssimo momento pré-Mundial, não teria sido loucura “descartar” a dona da casa logo de cara? O Egito pode ser do mesmo nível ou até um pouco superior aos russos (embora, não creio nessa segunda hipótese), porém não a ponto de estarem na condição de favoritos na casa oponente. A lesão de Salah certamente vai deixar uma interrogação na mente de quem acompanhou o torneio e, quem sabe, até servirá de argumento para anular todo este parágrafo. Só que este é o campo da suposição. O que temos para examinar é a realidade. Nela, os anfitriões deixaram os africanos comendo poeira. Sem anormalidade alguma, exceto a derrota dos faraós para os sauditas.
Do outro lado temos a Polônia. Foi cabeça de chave do grupo mais equilibrado por baixo da Copa. Marcou poucos amistosos e, muito por isso, conseguiu uma posição animadora no ranking da FIFA, além de ter entrado um grupo nada assustador nas Eliminatórias, com Dinamarca, Montenegro, Romênia, Armênia e Cazaquistão. Mas, o fato de contar com Robert Lewandowski – centroavante merecidamente consagrado do Bayern de Munique – levou a equipe vermelha e branca ao status de “cachorro grande” contra dois de seus três adversários, excluindo-se, neste caso, a Colômbia. Em campo, nas duas partidas já finalizadas, o que se viu foi a bola mal chegar aos pés da estrela da companhia.
Salah e Lewandowski, cada um com seus companheiros, ficaram, aquém do esperado. O primeiro, claro, com a ressalva, já citada, da lesão pouco antes do torneio. O desempenho longe do potencial é um fato que não se pode negar. No entanto, seus respectivos times nacionais não estão na prateleira que muitos inseriram. É algo a se pensar. O peso de um (único) craque (ou ótimo/bom atleta) está turbinando a qualidade de todo o elenco das seleções na avaliação geral, como se estivéssemos jogando a mais nova versão do game FIFA, da EA Sports. Rússia, Japão e Senegal fizeram o papel de colocar a realidade nos eixos. Afinal, os anfitriões e os asiáticos não chegam a ser malandros, mas estão distantes da alcunha de “Mané”. Por sinal, este, sabe-se lá por qual motivo, não turbinou o nível dos senegaleses nas análises.
Em suma, as campanhas de Egito e Polônia podem ter sido tão negativamente distantes da qualidade de ambos, quanto exageradas, caso tivessem “atropelado” todo mundo. Nem muito melhor, nem muito pior que seus concorrentes dentro dos grupos. Trata-se de seleções normais, que tiveram o peso erradamente calculado, devido a um ou dois jogadores acima da média. Alguém perguntará: “Mas… E Portugal e Cristiano Ronaldo?” Essa é outra história que podemos abordar numa próxima ocasião. De imediato, vale adiantar que o atleta em questão é “só” (atualmente) o melhor do mundo e o esquadrão luso, embora não seja brilhante, (como diriam os antigos) tem um pouco mais de garrafas vazias para vender.