Ato pela refinaria do Comperj reúne seis mil pessoas no Centro do Rio
Cerca de seis mil pessoas compareceram nesta segunda (24) ao ato “Juntos Pelo Comperj – Refinaria Já!”, realizado pelo Consórcio Intermunicipal do Leste Fluminense (Conleste) para cobrar a retomada das obras de uma das refinarias do Compeprj. Ao todo, 13 prefeitos aderiram ao protesto, na frente da sede da Petrobras, no Centro do Rio. Helil Cardozo, presidente do Conleste e prefeito de Itaboraí, disse que as cidades impactadas pela paralisação das obras do complexo vão manter a cobrança pela conclusão de pelo menos uma das refinarias (a Trem 1) do Comperj, que está 85% pronta.
Durante o ato, uma comissão de três prefeitos, dois deputados estaduais, um federal e três sindicalistas foi recebida pelos gerentes do Comperj, Flávio Fernando Casanova e Walter Shimura, na sede da companhia. No entanto, o encontro desagradou os representantes do movimento, uma vez que nenhuma posição foi dada a respeito do cronograma cobrado pelos prefeitos.
“Não estamos satisfeitos, queríamos ser recebidos pelo presidente da Petrobras, e não por dois gerentes, como ocorreu”, disse Helil Cardozo. “Vamos continuar protestando e realizando atos como esse até que uma definição aconteça e essa obra recomece”.
Além de Helil Cardozo, participaram da reunião os prefeitos de Niterói e Saquarema, Rodrigo Neves e Franciane Motta, respectivamente.
Rodrigo Neves destacou que todos os municípios do Leste Fluminense estão unidos nesta luta.
“Tudo que acontece em São Gonçalo e Itaboraí afeta Niterói. A paralisação dos investimentos do Comperj reflete em todos os municípios. Os metalúrgicos que trabalham no Comperj e na indústria naval não estão sozinhos nesta luta. Nos últimos 10, 15 anos, conseguimos retomar o setor naval e alavancar investimentos na região. E é inaceitável que ocorra hoje um retrocesso com a contratação novamente de navios e embarcações de outros países, como a China, Tailândia e Cingapura, exportando emprego do brasileiro e gerando desemprego na região e afetando a economia destes municípios. Tenho certeza de que, com esse movimento, vamos vencer e manter o emprego nos estaleiros”, disse.
A paralisação das obras da refinaria do Comperj tem causado uma grave crise de arrecadação nos municípios que compõem o Conleste. Só em Itaboraí, a arrecadação caiu mais de 50%. O ISS que corresponde a mais da metade da arrecadação total foi de R$ 23 milhões em janeiro para R$ 8 milhões em março e se mantém nesse patamar.
Presidente do SIntramon, sindicato que representa os trabalhadores do Comperj, Manoel Vaz afirmou que a categoria também vai manter a cobrança à Petrobras.
“Esse movimento não acaba hoje. Cada um que está aqui é um multiplicador desse ato. A Petrobras está desrespeitando o povo trabalhador, e é preciso que haja respeito. Estamos juntos com os prefeitos nessa luta”, disse o sindicalista.
Entre os prefeitos, estiveram presentes também Neilton Mulim (São Gonçalo), Valber Marcelo (Tanguá), Solange Almeida (Rio Bonito), Marco Aurélio (Guapimirim), Nestor Vidal (Magé) e Cica Machado (Cachoeiras de Macacu). Silva Jardim foi representada pelo vice-prefeito, Tião Rocha. Araruama, Nova Friburgo e Teresópolis também enviaram representantes, totalizando 13 municípios dos 15 que integram o Conleste.
Os deputados estaduais Waldeck Carneiro (PT), Milton Rangel (PSD), Paulo Ramos (PSOL), Chico D`Angelo (PT), Altineu Cortes (PR) e Sadinoel (PT). Também compareceu o deputado federal Francisco Floriano (PR-RJ).
Ao todo, quatro sindicatos de trabalhadores participaram do ato: o SIntramon, que dos que atuaram no Comperj; o Sinticon, da construção civil; o Stimmeni, dos metalúrgicos de Itaboraí e Niterói; e os sindicato dos petroleiros e da indústria naval.
Ao todo, 120 ônibus partiram de 13 municípios em direção ao Rio de Janeiro. Vinte deles desembarcaram na Praça Arariboia, em Niterói. Sete prefeitos, liderados por Helil Cardozo, cruzaram a Baía de Guanabara utilizando as barcas, e foram em passeata pelo Centro do Rio até a Avenida Chile, onde fica a sede da Petrobras.
“Este ato foi um grande exemplo de união entre os municípios e de engajamento de nossa população, dos empresários e dos trabalhadores em geral”, disse Helil Cardozo ao fim da manifestação, que durou cerca de 3 horas e meia.
Trabalhadores demitidos do Comperj e ex-funcionários da indústria naval também participaram do protesto
Desempregada desde dezembro de 2014, a ex-soldadora Cássia Moreira, 47 anos, fez questão de participar do ato na Avenida Chile. Há 12 anos, ela atua em obras públicas Brasil afora, mas garante que, desta vez, quer se fixar em Itaboraí. Logo após perder o emprego numa das terceirizadas do complexo, Cássia passou a vender empadas nas ruas do Centro da cidade fluminense.
“Acredito na luta pela retomada da refinaria. Ainda tenho esperanças de que as obras possam ser retomadas. Quero voltar a exercer minha profissão”, disse Cássia, contando que ela e o marido atuavam como soldadores na obra.
“Perdemos cerca de 25 mil empregos diretos e indiretos. Esperamos sensibilizar a direção da Petrobras para voltar a investir em Itaboraí e na região. Essa refinaria tem que sair do papel”, disse Manoel Vaz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Plano da Construção, Montagem e Manutenção Industrial de São Gonçalo, Itaboraí e Região (Sinticom).
Além de reunir ex-trabalhadores do Comperj, o ato em frente à Petrobras também juntou trabalhadores desempregados dos estaleiros de Niterói. Ex-funcionário do estaleiro Mauá e morador de São Gonçalo, Alex Carvalho, 23 anos, participou do protesto e ainda provou uma quentinha de arroz, feijão, farofa e calabresa levada pelo sindicato da Indústria Naval e distribuída em meio à multidão concentrada em frente ao prédio da Petrobras.
“Apesar de jovem, tenho família para sustentar e estou há três meses sem receber. Nem rescisão recebemos. Estou praticamente passando fome, o que tem me salvado é a minha família, nessas horas mais difíceis. Vim aqui hoje lutar e tentar mudar a nossa situação. Preciso muito trabalhar”, afirmou Alex.
A Petrobras paralisou as obras do Comperj e também reduziu os investimentos na indústria naval, obrigando o estaleiro Mauá a fechar as portas.