Eliminação foi o preço dos exageros na avaliação de quem acertou e errou

Equilíbrio. Essa é a palavra que deveria nortear a vida como um todo. No futebol também. Mas, em cada eliminação brasileira em Mundiais, ela parece distante de ser encontrada no dicionário. Nem panos quentes, nem terra arrasada. O revés da Seleção na Rússia merece uma avaliação peculiar.

Primeiramente, Tite foi o treinador responsável por mudar o patamar do time do Brasil nas Eliminatórias. A equipe jogou um bom futebol, conseguiu a classificação antes dos demais e empolgou. Aí que começou o problema. Virou, na visão geral, um timaço. Mentira. Enganação. Não era, nunca foi. Sigo com o pensamento desde o ciclo para 2014: temos um craque e vários bons ou ótimos jogadores. Esse diferenciado, claro, é Neymar. Só que ele ficou abaixo mais uma vez.

Alisson não teve culpa nos gols levados. Verdade. Mas será que é, realmente, o melhor goleiro que temos, sem discussão? Difícil cravar uma resposta positiva.

Quanto ao sistema defensivo, Thiago Silva e Miranda saem ilesos. Confesso que o primeiro até me surpreendeu, pela desconfiança psicológica que passava. Marcelo, não. Este se esperava muito além. Aliás, já foi assim em 2014, não é mesmo? Impressionante como não consegue repetir as atuações do Real Madrid com a camisa amarela. Mas é muito talentoso. Por isso, o chamam de melhor lateral-esquerdo do mundo. É um status merecido. No entanto, essa é uma posição de risco enorme. Quem sobe demais ao ataque deixa crateras na defesa. Filipe Luís pode estar atrás dele tecnicamente, só que tem o citado equilíbrio. Defende e ataca no mesmo tom. Certamente ele reduziria os sustos em cada contra-golpe apavorante belga puxado por Hazard e Lukaku.

Para fechar a linha defensiva, Fagner fez o seu máximo. Não é o suficiente para uma Seleção Brasileira. Mas pode ser covardia culpá-lo. Todos já sabiam de seus limites e chamaram por que quiseram. Fez um torneio burocrático e até certo ponto seguro, nada extraordinário de positivo ou negativo.

No meio, é incompreensível a convocação de Fernandinho. Pior ainda, a titularidade dele. Jogar no Manchester City, de Guardiola, é uma carta na mão de quem o defende. Desculpa lembrar, mas ele foi um dos piores nos 7 a 1. Hoje repetiu a atuação. Não pode ser apenas coincidência. Sentimos a falta de Casemiro, que cumpriu suspensão.

Paulinho é mais um dos que ficaram devendo. Só permaneceu no time devido ao gol marcado contra a Sérvia. Outro erro de quem comanda. Já Renato Augusto teve a lesão como complicador. Então… Por que estava lá? Ele não é nenhum César Sampaio, Falcão ou Gérson para ir a qualquer custo.

Decepção também é a palavra que marca a Copa de Willian, que ameaçou uma melhora diante do México e parou, depois. Pior ainda, Gabriel Jesus. Tentaram colocar sua importância tática como justificativa pela continuidade entre os 11. Um centroavante que termina sem um gol? Sem justificativas! Vale, entretanto, lembrar que não levamos ninguém desse setor, de fato, e que ele não é exatamente um 9. Firmino também não, porém vinha mostrando mais utilidade e eficiência. Difícil entender como o atacante do Liverpool seguiu na condição de reserva.

Muitas críticas irão ao encontro de Neymar. Realmente, não rendeu o que poderia. Porém, longe de um desastre. É cobrado por ser o único craque, por mais que muitos tentem empurrar a ideia de que outros possuem a mesma qualidade. Teve também a cirurgia pré-Copa como fator complicador. E Douglas Costa, que enfrentou problemas físicos, talvez seja o que deveria receber mais elogios, além dos zagueiros.

Outros nem entraram em campo. Taison, Fred… Foram caprichos de Tite. Sim, há jogadores melhores que ficaram distantes da convocação. Nenhum Ronaldo, Rivaldo ou Romário, mas existe.

Em suma, Tite, se ficar no cargo, é por dois motivos: sua competência – que não pode ser negada, assim como os erros – e a falta de opção. O futebol brasileiro carece de técnicos de ponta. Assim, o caminho fica menos nebuloso para o atual seguir para o ciclo dos próximos quatro anos. Para terminar, faça um pequeno exercício. Substitua o nome “Tite” por “Dunga”, os dois que caíram nas quartas de final com alguns jogadores questionáveis e resultados pré-Mundial satisfatórios. Veja se suas críticas seriam no mesmo tom. As da imprensa local certamente, não!