Morre Marcelo Yuka, um dos fundadores do grupo O Rappa
Um dos fundadores do grupo O Rappa, Marcelo Yuka morreu nesta sexta-feira (18). A informação foi confirmada neste sábado(19) pelo Hospital Quinta D’or. Em agosto do ano passado, Yuka, 53 anos, sofreu um AVC e lutava diante do quadro clínico complicado.
No início do mês, Marcello Lobatto, baterista que substituiu o artista na banda e sócio da Na Moral Produções, anunciou, por engano, a morte de Yuka e gerou confusão nas redes sociais e na imprensa.
Yuka que se tornou um símbolo de luta contra o desarmamento após ter sido baleado em um assalto e ficar paraplégico, cerca de dezessete anos atrás.
— Estar tão perto da morte me fez sentir assim: “Eu sou o último de mim. Eu não tenho filhos”. Esse impacto fez eu me prender a coisas essenciais – disse ele, em entrevista ao Conversa com Bial, em 2018.
Nascido em 31 de dezembro de 1965, no Rio de Janeiro, Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa’Ana passou a infância no bairro de Campo Grande e a adolescência em Angra dos Reis, onde aprendeu a surfar. Foi no início da idade adulta que se envolveu para valer com a música, ao mesmo tempo em que cursava Jornalismo na faculdade. A paixão pelas palavras seria uma herança da mãe, que era professora e, segundo o baterista, bastante severa.
No início da década de 1990, o nome de Marcelo já começava a circular entre o cenário musical brasileiro, juntamente com de outros colegas como a banda Skank e o rapper Marcelo D2, em um momento que o rock brasileiro vivia de influências do hip hop e do reggae.
Em 93, Yuka fundou O Rappa ao lado de Marcelo Lobato e Alexandre Menezes, o Xandão, com Nelson Meirelles, produtor do Cidade Negra. Inicialmente, o grupo foi criado meio às pressas para acompanhar o cantor caribenho Papa Winnie pelo Brasil. A química foi boa e, em seguida, eles anunciaram no jornal O Globo a vaga de vocalista, que foi preenchida por Marcelo Falcão.
Yuka foi o autor de boa parte dos sucessos da banda, que tomou as rádios com faixas como Pescador de Ilusões, Me Deixa, Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero), O Que Sobrou do Céu, Todo o Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro, entre outras. As letras, assim como os videoclipes, eram marcados por fortes críticas sociais e políticas.
Todo o processo de recuperação e sua vida após o assalto foram retratados no documentário Marcelo Yuka no Caminho das Setas, de Daniela Broitman, e no livro autobiográfico Não Se Preocupe Comigo (Ed. Sextante).
Em 2017, Yuka lançou seu primeiro álbum solo Canções para Depois do Ódio.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em julho do ano passado, ele falou sobre como suas constantes internações dificultaram a divulgação do disco:
“No primeiro ano (2016) eu fiquei indo e voltando para o hospital e no outro (2017), um ano e dois meses direto (internado), sendo que oito meses eu fiquei sem sair da cama. Fiz um tratamento na câmera hiperbárica que me deixou temporariamente surdo. Virei doente renal, tive uma série de doenças ocasionadas pela internação”.
No álbum, Yuka usou sua grande habilidade como letrista para criar metáforas e falar da vida após o atentado, da clausura do corpo e da luta contra a depressão.