MPs no Rio vão acompanhar investigações de casos de intolerância religiosa
Os ministérios públicos estadual e federal do Rio de Janeiro vão atuar juntos para acompanhar as investigações de casos de intolerância religiosa no estado. Esta semana, vieram a público dois vídeos nas redes sociais em que traficantes aparecerem coagindo religiosos para destruir imagens em terreiros de religiões de matriz africana. Um caso foi em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e o outro na Ilha do Governador, na zona norte da capital.
Com a repercussão das imagens, que provocou indignação e repúdio, procuradores se reuniram hoje (15) com religiosos para estabelecer as ações. O MPF decidiu instaurar uma notícia-fato para averiguar se há omissão por parte do Poder Público no combate aos crimes. A reunião também teve a participação do secretário Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo federal, Juvenal Araújo Júnior.
Entre julho até esta semana, o Disque Combate ao Preconceito, um serviço do governo estadual, recebeu 32 denúncias de intolerância em todo o estado do Rio, dos quais oito ocorreram no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) tem defendido a criação de uma delegacia específica para registrar corretamente casos e gerar dados estatísticos para mapear os crimes, mas ainda não há previsão de instalar a unidade, segundo a Secretária de Segurança.
Ficou agendada uma nova reunião na próxima terça-feira (19), da qual participarão também representantes do Ministério de Direitos Humanos e da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do estado. “Já há atitudes para que possa ser criado um mecanismo permanente e eficiente da questão de combate à intolerância religiosa”, disse Araújo Júnior.
Vítima de agressões
Quem viveu a experiência de um ataque religioso cobra medidas urgentes de combate ao preconceito. É caso da mãe de santo Conceição D’lissá, do centro de Candomblé Kwe Cejà Gbé, em Duque de Caxias, que foi vítima de reiteradas agressões. Há três anos, o terreiro onde atua foi incendiado e até hoje os responsáveis não foram identificados.
“Eu levei um ano e meio para voltar a fazer uma cerimônia religiosa”, disse a sacerdotisa. “Tudo foi destruído”. O terreiro dela, assim como a própria, já havia sido alvo de tiros. “Carros meus e de filhos de santo já foram incendiados lá dentro. Tudo por intolerância”. Ela diz que fez boletim de ocorrência em todas as situações e ameaças.
A procuradora responsável pelo monitoramento das ações do poder público, Ana Padilha, diz que o Estado tem a obrigação de proteger as vítimas e as casas religiosas. “Esses ataques são intoleráveis em um país laico em que as pessoas têm que respeitar as outras”.
A procuradora centrará as averiguações nos órgãos de segurança e de acolhimento às vítimas dos crimes. “A partir do momento em que há um crescente aumento desse tipo de crime e agressão, algo tem que ser feito, o poder público tem que coibir essa violência”.
Para protestar contra os ataques, pelo 10º ano, a Praia de Copacabana, no domingo (17), recebe a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. A previsão é reunir 30 mil pessoas. Entre elas, representantes do candomblé, umbanda, evangélicos, católicos, budistas e muçulmanos.