Polícia do Rio faz segundo dia de buscas por traficante resgatado de hospital
Pelo segundo dia consecutivo, a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro realiza operações em áreas de 18 batalhões que abrangem 42 comunidades da cidade e da Baixada Fluminense dominadas pela facção Comando Vermelho, à qual pertence o traficante o traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, de 28 anos, conhecido como Fat Family.
Ele foi resgatado por um grupo de homens fortemente armados na madrugada do último domingo (19) da enfermaria ortopédica do Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio.
Esclarecimento
A Secretaria Municipal de Saúde informou, em nota, que o paciente Nicolas Labre de Jesus foi levado por policiais civis ao Hospital Municipal Souza Aguiar no dia 13 deste mês, com ferimento no rosto causado por projétil de arma de fogo. Segundo a nota, o paciente recebeu todos os cuidados emergenciais indicados para o caso. Para continuidade do tratamento, havia indicação de cirurgia eletiva, que poderia ser feita posteriormente e em outra unidade.
Dois dias depois, no dia 15, verificando que Nicolas Frabre não tinha sido transferido, às 9h06, a direção do Souza Aguiar entrou em contato com o Hospital Penitenciário, solicitando a remoção do paciente e recebendo como resposta a informação de que a unidade penitenciária não tinha possibilidade de recebê-lo para fazer a cirurgia. De acordo com o texto, como não havia opção, o Souza Aguiar continuou com o tratamento do paciente.
“Em nenhum momento, o Hospital Municipal Souza Aguiar recebeu solicitação da Polícia Militar para transferir o paciente custodiado, que estava com quadro estável e sem restrições clínicas para a remoção para outra unidade”, diz ainda o comunicado. A nota ressalta que o controle de visitas e as restrições de comunicação de pacientes sob custódia são de responsabilidade dos policiais militares que os o acompanham diariamente, nas 24 horas do dia.
Até a manhã desta segunda-feira (20), a Secretaria Municipal de Saúde contava com 12 pacientes custodiados em suas unidades, aguardando definição da autoridade policial responsável pelos casos. Destes, 11 já estavam em condições clínicas para transferência.
Protesto
A Associação de Cirurgia Pediátrica do Estado do Rio de Janeiro (Ciperj) divulgou uma nota sobre a situação que os médicos enfrentam nos hospitais públicos do Rio de Janeiro. “Nós, da Ciperj, somos Souza Aguiar. Com certeza somos. Mas também somos Getúlio Vargas, Antônio Pedro, Azevedo Lima, Albert Schweitzer, Rocha Faria. Todos têm bandidos internados. E todos não têm segurança, nem meios de proteção”, afirma a associação.
“Somos nós que dividimos as madrugadas insones com a polícia mal equipada, os colegas da enfermagem mal pagos e extenuados, o pessoal da limpeza não pago. Todos cansados, terrivelmente cansados. Todos tristes, terrivelmente tristes. Somos nós que nos tornamos íntimos sem sermos amigos, porque, afinal, quem pode não ser íntimo sem ter nada, exceto riscos e desafios desproporcionais?”, questionam os médicos no comunicado.
No texto, os profissionais admitem que têm medo, mas continuam a trabalhar, “sem saber até quando, nem a que preço”. A nota diz ainda que os médicos sofrem assédio e ameaças no trabalho, de pacientes, de pessoas sem esperança ou desesperadas, e se sentem “presos em barricadas com camas velhas na madrugada do Souza Aguiar.”
Transferência
O titular da Vara de Execuções Penais (VEP), juiz Eduardo Oberg, determinou nesta terça-feira (21), que 15 presos, hoje custodiados no Complexo Penitenciário de Gericinó, sejam transferidos para unidades prisionais federais fora do estado do Rio de Janeiro.
De acordo com Oberg, as gravações de áudio em comemoração pelo resgate do traficante Fat Family, recebidas pelo tio do criminoso (Edson Pereira Firmino de Jesus, o Zaca) dentro da cadeia, evidenciam a necessidade de desarticulação imediata da quadrilha e seu constante monitoramento de modo rigoroso.
Além disso, diante da informação de uma suposta festa que teria acontecido nas galerias da prisão depois da fuga de Fat Family, o juiz determinou a abertura de 10 procedimentos investigatórios e de inquéritos nas delegacias de Homicídios e de Combate às Drogas para apurar as denúncias de entrada na unidade de lanches, celulares, munição e até um roteador de 8 quilos, que possibilitava comunicação via wi-fi livre na região.
“Diante da omissão da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, determino que cada um dos fatos narrados seja investigado. Os casos da munição e dos lanches, por exemplo, vão ser investigados pela 34ª Delegacia Policial, em Bangu, que é a delegacia responsável por aquela área”, disse o magistrado.