Por ônibus com tarifa zero, Maricá enfrenta empresários de transportes
Antes regra para qualquer um que desejava pegar um ônibus no município de Maricá, o ato de pagar a passagem ficou no passado. A cadeira do cobrador está vazia desde dezembro de 2014, quando a prefeitura municipal fundou a Empresa Pública de Transportes (EPT) e instituiu passe livre para todos.
Com essa medida, o prefeito Washington Quaquá (PT-RJ) deseja quebrar o monopólio que comanda o setor na cidade há mais de duas décadas. A informação foi veiculada nesta quarta-feira (04), no site da revista Carta Capital.
Se no passado recente o valor da tarifa era de nada menos que R$ 2,70, hoje a cidade é o primeiro município brasileiro com mais de 100 mil habitantes, a oferecer ônibus gratuito para a população. No cargo desde 2008, Quaquá é um dos fundadores do PT na cidade e o atual presidente estadual do partido no Rio de Janeiro.
Conhecido por ser de uma corrente mais à esquerda, Quaquá fez parte da sua campanha eleitoral focando na disputa com os empresários do transporte. “Maricá é bonita demais para ser controlada por uma empresa de ônibus”, dizia o slogan político.
“Essa Constituição estabelece que transporte é serviço público que pode, pode [repete] ser concedido. A lógica de Maricá é a seguinte: o serviço será público e gratuito”, garante.
Autarquia
Com a criação da autarquia, foram investidos aproximadamente 5 milhões de reais. A prefeitura comprou dez ônibus equipados com ar e elevador para pessoas com necessidades especiais e contratou 29 motoristas por meio de concurso público, em caráter temporário de 12 meses. Os veículos atendem do bairro Recanto à Ponta Negra, nas extremidades do município, 24 horas por dia e nos finais de semana. Todos os veículos comprados pela cidade têm ar condicionado e elevador para deficientes físicos nas portas.
“Nós vamos comprar mais 20 ônibus, provavelmente ônibus elétricos, sem emissão de carbono, que funcione a energia solar”, explica Quaquá. Os recursos para manter todo esse sistema são provenientes da verba que o município tem direito em função dos royalties do petróleo. No ano passado, por exemplo, Maricá recebeu repasses que totalizaram 220 milhões de reais, segundo o Portal da Transparência da cidade.
Com dez ônibus em funcionamento, foram gastos no primeiro mês aproximadamente 700 mil reais, mas a tendência é que o gasto suba para 1,5 milhão quando a empresa aumentar a área de atuação.
O plano de Quaquá provocou uma reação imediata dos empresários. Menos de dez dias depois de os ônibus começarem a circular pelas ruas de Maricá, as empresas deram entrada em uma liminar na 5ª Vara Civil da Comarca de São Gonçalo para impedir o funcionamento da Empresa Pública de Transportes (EPT). O pedido não foi aceito pela Justiça.
Maiores beneficiados na briga entre as empresas de ônibus privadas e o novo modelo de transporte público municipal, os usuários elogiam o serviço – apesar de algumas reclamações quanto ao tempo de espera (que pode levar de 40 a 1 hora), enquanto novos veículos não chegam -, e avaliam como positivo a iniciativa da prefeitura.
A professora Amanda Assis, de 27 anos, mora a pouco tempo em Maricá, mas, utiliza o transporte municipal e faz elogios.
“Não sei ao certo como era antes, moro há a pouco tempo e até então não dependia de ônibus… Agora comecei a usar o transporte publico de Maricá! Inclusive hoje mesmo (04/02) utilizei o ônibus gratuito e fiquei muito satisfeita. Motorista uniformizado, ônibus com ar condicionado e em ótimas condições”, destacou.