Suicídio deve ser tratado como questão de saúde pública, alertam especialistas
O Natal é a época considerada mais feliz do ano, com muitas festas e comemorações. Mas para algumas pessoas é bem ao contrário. Pode ser um período triste, acompanhado por sentimentos de solidão, falta de autoestima, desamparo e desânimo, podendo se transformar em momentos tristes e difíceis de suportar, especialmente se a pessoa já está deprimida ou passa por uma crise existencial. É nesse momento que a maioria dos suicídios acontece.
Para falar mais sobre este tema, considerado um “tabu social”, a secretaria municipal de Saúde promoveu na terça-feira (16), no Salão Nobre da Prefeitura de Itaboraí, o II Encontro dos Profissionais de Saúde Mental.
O objetivo foi capacitar na prevenção ao suicídio, melhorar o acolhimento dos pacientes, intensificar a notificação nos sistemas de informação, e melhorar o cuidado com as pessoas que já cometeram alguma tentativa prévia de tirar a própria vida ou que apresentam algum transtorno mental.
A coordenadora municipal de saúde mental, Andreza Contilho, afirma que há um aumento da incidência desses casos mundialmente e também em Itaboraí. De acordo com a Vigilância Epidemiológica, foram registradas nove tentativas de suicídio entre 2013 e 2014, na faixa etária de 15 a 34 anos, mas nenhum caso consumado.
Ainda segundo a coordenadora, há uma perspectiva de se fazer monitoramento epidemiológico de suicídio com ajuda da equipe de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/FIOCRUZ), que já realiza este trabalho no município de Guapimirim.
“Toda tentativa precisa ser olhada com atenção. Acredito que esses números podem diminuir se aumentarem os debates sobre o assunto. Em geral, seis meses antes de consumar o ato, pessoas com pensamentos suicidas procuram ajuda com profissionais. Iniciamos um processo de capacitação de profissionais de saúde, envolvendo mais de 100 pessoas.
Estas qualificações envolvem a atenção primária, os profissionais que atuam nos programas e da rede de urgência e emergência. Teremos, com isso, uma ampla rede de acolhimento de casos de risco e também mais notificações das tentativas prévia de suicídios. Também vamos monitorar os casos não consumados, porque a próxima vez pode ser fatal”, explica Andreza.
Itaboraí conta com dois Centros de Atenção Psicossocial (Infanto-Juvenil e Adulto), um ambulatório especializado e a emergência psiquiátrica, que são portas de entrada para o acompanhamento dos indivíduos com este perfil. Os atendimentos são realizados sem privar os usuários do contato social e com a família, que frequentemente participa dos atendimentos. O resultado é uma maior adesão ao tratamento.
Jovens são o público-alvo Segundo a coordenadora do Centro Latino Americano de Violência e Estudo em Saúde, Edinilsa Ramos, que ministrou palestra sobre violência e suicídio, esta prática é hoje um problema de saúde pública tão grave quanto o infarto ou o AVC (derrame). Ao ano, quase um milhão de pessoas morrem em decorrência de suicídio.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ato está entre as dez causas de morte mais frequentes em muitos países do mundo. Houve também um crescimento de suicídio entre os adolescentes. Geralmente eles começam com a automutilação por conta de transtornos mentais sem tratamento.
“Os jovens necessitam de atenção especial. Geralmente são vítimas de violência sexual, psicológica e moral. A cada tentativa de suicídio a chance de ter sucesso é de 30%. Precisamos admitir que o suicídio é uma questão que diz respeito a todos os profissionais de saúde. Todos nós devemos buscar capacitação profissional para lidar com isto”, cita Edinilsa.
“As pessoas devem ter a escuta aberta, ter um olhar de acolhimento e ternura sobre quem está precisando de ajuda, e para isto é importante que saibam como orientá-las a procurar atendimento psicossocial especializado. Temos, acima de tudo, que desmitificar esse tabu e oferecer um melhor acolhimento a quem busca ajuda”, comenta.